FAMÍLIA MAYCA NO BRASIL

Por Cecília Maicá

No estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, há uma tradição chamada tradição gaúcha, onde os usos e costumes do povo são preservados e transmitidos às novas gerações. Sou gaúcha de nascimento e fui criada no meio tradicionalista e certo dia, dando uma palestra a estudantes sobre a importância da preservação das raízes, tomei consciência de que pouco sabia sobre os meus ancestrais. Isso foi um tremendo choque e inúmeras perguntas borbulharam na minha cabeça: Quem é o pai do meu avô? Teria ele irmãos?… Esse fato marcou o início de uma incan.

Meu pai afirmava que seu pai dizia que nossa origem era francesa e eu conversava com tios-avôs e todos repetiam a mesma coisa, mas ninguém provava nada e eu queria prova. E essa não era apenas uma curiosidade minha, vários parentes também desejavam saber suas origens. Abracei a causa e lancei-me na aventura da busca genealógica numa época em que os meios digitais eram escassos e era preciso viajar para entrevistar pessoas, visitar cartórios de registros, visitar cemitérios, enviar cartas para os mais distantes, enfim, uma série de obstáculos; e então cheguei à cidade gaúcha de Rosário do Sul, onde conheci inúmeros parentes descendentes de Pedro Francês. Uma cortina se abriu.

O caminho de buscas genealógicas pode ser complexo, mas traz compensações extraordinárias. Assim como não sei os caminhos percorridos por Pierre Mayca – meu trisavô – não sei dizer como cheguei às suas raízes. Os anos foram passando, as tecnologias da informação e comunicação se estabelecendo proporcionando mais facilidade de interação, dados sendo confirmados e o sentimento indescritível de alegria a cada descoberta.

Hoje posso dizer com toda a certeza: Sou trineta de Pierre Mayca! No meio da jornada de buscas estabeleci contato com parentes descendentes de seus irmãos na França, que muito se alegraram e me agradeceram por fornecer notícias do velho tio que migrou para a América do Sul.

Pai de doze filhos, sete homens e cinco mulheres, a descendência de Pierre Mayca já atingiu a sétima geração e espalha-se pelo Brasil, Argentina e Uruguai. Foi, sem dúvidas, um pioneiro. Acredito tratar-se de um homem de vida simples, um trabalhador da terra talvez; muito ainda há para se investigar, não é fácil reconstruir uma história de quase duzentos anos, mas viveu até perto dos cem anos e morreu, segundo reza a sua certidão de óbito, em casa e de causas naturais.

Parte de seus descendentes costumam reunir-se nos Encontros da Família, realizados às vezes no Brasil, às vezes na Argentina, e todos têm ciência de que Pierre Mayca é o seu Genearca. Os Encontros são uma festa de congraçamento entre os consanguíneos que reverenciam sua ancestralidade com alegria e cordialidade mantendo viva a memória do velho Pedro Francês.

Sou descendente de seu filho Pedro Maycá Filho que, a exemplo do pai, teve uma significativa descendência: treze filhos, sendo onze homens e duas mulheres. Meu avô Attiles Maycá era o primogênito dessa prole e não ficou para trás, pois sua descendência conta com o relevante número de quatorze filhos, sendo dez homens e quatro mulheres. Esses dados dão uma pequena amostra do porque a descendência de Pierre, na sua sétima geração, atinge um número expressivo de pessoas.

A ramificação de Pedro Maycá Filho tem notável destaque nas artes, principalmente na música, onde seu neto Cenair Maicá (1947-1989) tornou-se um ícone da música nativa sul-rio-grandense ao ponto de ser erguido um monumento em sua homenagem na cidade de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, que abriga também as Ruínas Missioneiras de São Miguel das Missões que são patrimônio histórico da humanidade. Os feitos musicais desse neto contribuíram para que o avô tropeiro fosse distinguido com a homenagem de nominar uma rua na cidade de Ijuí, Rio Grande do Sul, onde morou até falecer e está sepultado.

Para ilustrar, lamentando não ter em mãos fartos registros fotográficos que pudessem nos alentar com a apreciação das feições dos nossos ancestrais, mostro uma foto do meu bisavô Pedro Maycá Filho, que era guardada com muito carinho pelo meu pai e que hoje eu guardo como uma verdadeira relíquia.

No meu blog também disponho algumas informações: Família Mayca no Brasil